EXU
Divindade mensageira entre os
homens e os orixás e destes entre si. Um dos deuses mais polêmicos das
religiões afro-brasileiras. Desde sua origem na África está associado ao
poder de fertilização e à força transformadora das coisas. Nada se faz,
portanto, sem sua permissão. Entre os objetos que o representam está o
ogó, instrumento de madeira esculpido em forma de pênis e adornado com
cabaças e búzios, que representam os testículos e o sêmen. Espírito
justo, porém vingativo, Exu nada executa sem obter algo em troca e não
esquece de cobrar as promessas feitas a ele. Um mito iorubano conta que
dois amigos esqueceram de fazer as oferendas devidas a Exu. este colocou
então na cabeça um chapéu pintado de um lado vermelho e de outro
branco. Ao passar entre os dois amigos, cumprimentou-os e prosseguiu. Os
amigos intrigados se questionaram: " Quem seria o andarilho com aquele
chapéu vermelho?". O outro retrucou: "Não, o chapéu era branco".
Discutindo a respeito da cor do chapéu, os amigos começara a brigar até
se matar... O dia de Exu é a segunda-feira, dia das almas no calendário
católico, e sua comida preferida é o galo, farofa de dendê, pimenta e
cachaça. Por ser o mensageiro entre os mundos, também esta relacionado
com a morte, por isso recebe oferenda em cemitérios e na encruzilhadas
(onde os caminhos se encontram). No rito jeje, o deus mensageiro e
Elegbará, Legba ou Bará (conforme se diz no batuque gaúcho). No rito
angola é Aluviá.
OGUM
OXÓSSI
Orixá da mata, caçador que
retira desta seu sustento e o da sua tribo. Na África, era cultuado
pelas famílias reais da cidade de Kêto, da qual fora rei. No Brasil,
tornou-se padroeiro desta nação e uma das divindades mais populares do
candomblé. Em alguns mitos, Oxóssi e Ogum aparecem como irmãos,
lembrando que também era função dos caçadores combater os inimigos e,
ainda, a importância dos instrumentos de ferro forjado para a caça. No
rito jeje, o deus da caça é Azacá. No rito angola, é Mutacalombo e
Congombira. Na Bahia, Oxóssi foi associado com são Jorge, por ser este
santo um "caçador de dragões". No Rio de Janeiro, foi associado com são
Sebastião, talvez pelo martírio deste santo, que é representado amarrado
a uma árvore e com o corpo cravado por flechas. Em Pernambuco, o deus
africano da caça é visto como são Miguel, o anjo "caçador de demônios"
que vence com uma espada.
OBALUAIÊ, OMOLU, XAPANÃ
Orixá
das doenças, das epidemias, da varíola e demais enfermidades
contagiosas e de pele. Obaluaiê traz no próprio corpo as marcas de todas
as doenças que carrega. Por este motivo, veste-se com um chapéu em
forma de manto feito de palha-da-costa (fios desfiados de dendezeiro),
para que ninguém veja o seu corpo. No Brasil, o culto a Obaluaiê
revestiu-se de grande seriedade e temor devido aos poderes que lhes são
atribuídos de curar ou de espalhar a peste. No período colonial, devido à
grande incidência de doenças contagiosas a que estavam expostos os
escravos e a população em geral, seu culto foi associado aos dos santos
católicos protetores dos homens contra os males físicos, como são
Lázaro, que traz o corpo coberto por chagas. Para obter a proteção de
Obaluaiê e de são Lázaro, nas igrejas destes santo, em Salvador,
todas as segundas-feiras os devotos do candomblé costumam espalhar
pipocas pelo chão, o alimento preferido de Obaluaiê, que lembra as
marcas deixadas pela varíola em sua pele. Obaluaiê também foi associado
com são Roque, santo que dedicou sua vida a tratar dos doentes
emprestados. Cona-se que são Roque, tendo contraído o vírus da peste,
retirou-se para uma choupana, onde um cachorro das imediações todos os
dias levava um pão para o seu sustento. Curado milagrosamente, volta
para a sua cidade natal, onde por injustiça é preso, vindo a morrer no
cárcere. No rito jeje, o deus das doenças é Acossi Sapatá, e no rito
angola é conhecido, entre outros nomes, por Cavungo ou Cafunã.
OXUMARÊ
Orixá
cuja representação é a cobra que morde a própria cauda, aludindo ao
ciclo dos movimentos e das transformações. Associado ao arco-íris,
veste-se com colares de búzios, que representa a riqueza da qual é
provedor. Um mito narra que nasceu do ventre de sua mãe, Nanã, como
menina, chamada Bessem, porém depois se transformou em cobra. Por isso,
em muitos terreiros, pode ser masculino e feminino, alternadamente. Os
ciclos da chuva e seca, que se alternam também, são considerados
consequências das transformações místicas de Oxumarê.
OSSAIM
Divindade
das folhas, ervas e medicamentos feitos a partir delas. Seu domínio é o
mesmo de Oxóssi, a mata. Pela importância litúrgica que têm as folhas
no candomblé (na louvação dos orixás, na preparação de banhos rituais
etc.) e pelos seus poderes medicinais, o culto a Ossaim desempenhou um
papel fundamental no desenvolvimento do candomblé. Tido muitas vezes
como divindade que possui apenas uma perna, Ossaim foi associado com
alguns "encantados" dos mitos indígenas, como o caipora indígena e
posteriormente o saci-pererê, que também possuem apenas uma perna e
habitam as matas brasileiras. No rito angola, o inquice das folhas é
chamado de Catendê e no rito jeje é Aguê. Ossaim pode aparecer associado
com são Benedito, são Roque e são Jorge.
XANGÔ
Rei
da cidade de Oyó, uma das principais de língua ioruba, esse orixá
aparece nos mitos como senhor dos raios e do trovão, aquele que solta
fogo pela boca. Seu símbolo é o machado de duas faces. Normalmente,
quando seus filhos o incorporam nos candomblés, usam uma coroa mostrando
a condição de rei deste orixá. Foi associado com são Jerônimo, que é
retratado como um velho imponente sentado ao redor de livros e tendo aos
seus pés um leão, símbolo da realeza entre os iorubás. No rito jeje, o
vodum Badé-Quevioso é um dos responsáveis pelo controle dos astros,
raios, trovões e tempestades. Geralmente é festejado no dia de são
Pedro, com que também é associado por ser este santo católico o
"porteiro do céu" e ser retratado nas nuvens. No rito angola, seu nome é
Zaze.
OXUM
Divindade
da água doce dos lagos, fontes e cachoeiras. na África, está
relacionada com a fertilidade das mulheres e com a riqueza dela
decorrente, já que é pela procriação que se garante a continuidade das
famílias e a subsistência das comunidades. Por estas características seu
culto no Brasil foi somado à Nossa Senhora da Conceição. Sua cor é o
amarelo e sua insígnia e o ababé (leque com espelho). O correspondente
Oxum no rito jeje é Aziritoboce. E no rito angola é Quissambo ou Samba.
LOGUNEDÉ
Na
África, é um orixá da caça, filho de Oxóssi (Erinlé) com Oxum. No
Brasil, é cultuado como divindade "meji" ou "meta-metá", pois seis meses
vive no domínio de sua mãe, as águas, onde se apresenta como mulher e
se alimenta de peixes,e seis meses vive no reino de seu pai, as matas,
onde se apresenta como homem e se alimenta dos animais que caça. Por
este motivo, é considerado provedor, ágil e esbelto, como seu pai, e
vaidoso, volúvel e dengoso, atributos de sua mãe. Em homenagem aos seus
pais, suas cores são o azul e o amarelo e suas insígnias, o arco e
flecha e o abebé.
IANSÃ OU OYÁ
Deusa
dos vento, raios e tempestades, domínio que divide com seu marido
Xangô. o culto aos mortos também está relacionado a Iansã, que segundo o
mito, preparou roupas especiais para vestir os mortos (chamados de
egungum), que assim poderiam voltar à Terra e falar com seus
descendentes. Sob o culto de Iansã, a devoção às almas presente no
catolicismo popular pôde encontrar correspondência. Iansã também foi
associada a santa Bárbara, que atraiu a fúria de seu pai ao se converter
ao catolicismo. Condenada à morte, foi o próprio pai que lhe cortou a
cabeça, ato seguido por uma terrível tempestade e um raio que atingiu o
executor da santa. Por este motivo, santa Bárbara tem a seu favor o
poder dos raios, dos ventos e da tempestade, como Iansã. A imagem de
santa Bárbara é uma mulher jovem com uma espada, o que contribuiu ainda
mais para associá-la ao caráter guerreiro de Iansã. No rito jeje,
aentidade dos trovões é Sobô. No rito angola, ela é chamada de
Bambuburucema ou Matamba.
OBÁ
Orixá
guerreira, foi a terceira mulher de Xangô. na Nigéria, é cultuada no
rio que leva o seu nome e cujas águas se encontram com as do rio Oxum,
outra esposa de Xangô. Os mitos contam que essas duas entidades são
rivais na disputa pela atenção do marido comum. Um desses mitos narra
Oxum como exímia cozinheira, que finge preparar um prato feito com a
própria orelha para ofertar a Xangô. Obá, instruída por Oxum e
acreditando que o marido apreciava aquele manjar, corta a própria orelha
para lhe servir. Descoberta a fraude, Obá investe contra a rival.
Xangô, enfurecido com o episódio, atira-se sobre as duas, que, ao fugir
se transformam em rios. Nos terreiros, Obá, ao dançar, esconde com uma
das mãos ou com um pano amarrado à cabeça a região da orelha decepada.
NANÃ
Nanã
Buruku é considerada uma divindade anciã. Seu domínio é o barro, ou a
terra umedecida pela água, que serviu de matéria-prima com a qual os
homens teriam sido criados por Oxalá. Por isso, está associada tanto aos
primórdios do mundo como à morte, pois a ela retorna o corpo dos homens
depois de mortos. Seu culto reveste-se de muita solenidade. É tida
como a mãe de Obaluaiê e sua principal insignia é o ibiri, espécie de
bastão (ou vassoura) em forma oval, feito de nervuras de folhas de
palmeira e que representaria o ventre de onde teriam surgido os homens e
os deuses antepassados. Quando incorporada, dança lentamente como que
se apoiando num cajado com o qual remexe a terra umedecida. está
associada a santa Ana.
IEMANJÁ
Divindade
das águas, tida como mãe de todos os outros orixás. Na África, era um
rio que para fugir de seu marido desembocou no mar, onde passou a viver
junto de sua mãe Okum. No Brasil, é cultuada sobretudo no mar, sendo
associada com outros "encantados" das águas, de origem indígena. Daí ser
louvada também como Rainha do Mar, Janaína, Mãe D'água, Sereia, Iara
etc. No rito jeje, a divindade da água salgada é Abé, representada pela
estrela guia que caiu no mar. No rito angola, o mar é representado por
Mãe Danda (Dandalunda) ou Quissimbe. A festa de Iemajá, quando é costume
dos devotos levar presentes ao mar, tem reunido milhares de pessoas e
vem sendo realizada desde o século passado em praias, diques, fontes e
lagos ao longo de quase todo o litoral brasileiro e em várias cidades do
interior. Devido à relação de Iemanjá com a maternidade, seu culto no
Brasil foi aproximado ao de Nossa Senhora em várias louvações.
OXALÁ
Grande
orixá da criação. No princípio, Oxalá foi designado por Oludumare (O
Ser Supremo) para criar todo o mundo, tendo para isso recebido o "saco
da criação" e o poder de realização (axé). Contudo esqueceu-se de fazer
as oferendas a Exu, que resolveu se vingar provocando-lhe uma enorme
sede. Desesperado, ele se embriaga com vinho de palmeira e adormece.
Olodumare, ao saber do ocorrido, designa Odudua, o segundo deus criado
depois de Oxalá, para substituir o orixá embriagado. Odudua espalha,
então, a substância do saco da criação sobre a superfície da água até
formar um monte. Neste monte coloca uma galinha, que ciscando vai
espalhando continuamente a terra até cobrir a superfície das águas. Foi
neste monte que se eregiu a cidade de Ifé, centro da religião iorubá.
como consolação coube a Oxalá modelar com o barro o corpo dos homens
sobre o qual Olodumare soprou para dar-lhe vida. Devido a estas
características, o culto a Oxalá foi relacionado com a devoção católica a
Jesus, também filho do criador supremo e salvador dos homens na Terra.
Exemplo dessa associação entre Jesus e Oxalá aparece numa das festas
mais populares na Bahia, a lavagem da igreja do senhor do Bonfim, que
alude a um mito africano. O velho Oxalá resolveu visitar seu amigo
Xangô, rei de Oyó. Após longa jornada, ao entrar nesta cidade, encontrou
perdido o cavalo de Xangô. Tentando amansá-lo, foi visto pelos soldados
do rei, que logo o tomaram por um ladrão. Oxalá foi atirado na prisão e
lá ficou por sete anos. Durante esse período grandes catástrofes
acometeram o reino de Oyó: seca, epidemias e esterilidade das mulheres.
Xangô consultou o adivinho e ficou sabendo da prisão injusta de seu
amigo Oxalá. Como forma de desculpar-se, ordenou que todos de seu reino
vestissem roupas brancas (a cor de Oxalá) e buscassem água três vezes
seguidas para banhar Oxalá. Na lavagem da igreja do Bonfim o costume
católico de lavar o chão da igreja como ato de devoção forneceu à
população uma ocasião de comemorar o banho de Oxalá. Assim, até hoje, os
adeptos do candomblé, vestidos de branco e carregando na cabeça jarros
com água, fazem uma grande procissão até a igreja onde lavam seu chão
com a água dos jarros, homenageando ao mesmo tempo o Senhor do Bonfim e
revivendo o mito de Oxalá. O avatar jovem deste orixá é Oxaguiã. No rito
jeje, a criação ficou a cargo do par Mavu-Lissa. Mavu representa o
princípio feminino e é completada por Lissa, o princípio masculino,
representado pelo Sol. No rito angola, a divindade da criação é Zambi ou
Lemba.
ERÊ
Tido
como espírito infantil, o erê desempenha a função de falar pelo orixá,
que em geral não fala, a não ser em raras ocasiões. Cabe também ao erê
manter o transe do iniciado durante certos momentos rituais, como, por
exemplo, quando este está sendo paramentado com as vestes e insígnias do
seu orixá ou mesmo quando é necessário cumprir tarefas cotidianas no
terreiro. Ao final de longos períodos de transe, os erês geralmente são
chamados para "amenizar" o retorno do indivíduo à sua consciência. os
erês em geral comportam-se como crianças, pedindo balas e doces às
pessoas e se expressando com a dificuldade típica das crianças que ainda
estão aprendendo a falar. Chupam chupeta e muitas vezes falam coisas
embaraçosas por ainda não estarem cientes das regras sociais, ou mesmo
porque querem provocar confusões para se divertir.
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