terça-feira, 13 de novembro de 2012

Múmia e suas Origens


FOTO DE UMA MÚMIA 






                 Uma das múmias expostas no Museu Egípcio de Milão
Foto © Roseli M. Comíssoli de Sá

Na tradição sobre as múmias e nos filmes de terror nos quais elas aparecem, qualquer pessoa que perturbe a tumba de uma delas incorrerá na sua ira. Esta idéia está baseada nas maldições que, supostamente, os antigos egípcios inscreveram no limiar de seus túmulos. Tais advertências agiriam como antigos sistemas de segurança e tinham por objetivo fazer com que os assaltantes das tumbas tivessem medo de fugir com os bens enterrados nas sepulturas. Embora se acredite que essa lenda seja baseada no folclore egípcio, é até bem provável que a história da maldição da múmia tenha surgido na literatura. Uma fonte amplamente aceita é o conto de Louisa May Alcott intitulado Perdido em uma Pirâmide: a Maldição da Múmia, publicado em 1869.

Quando os árabes chegaram ao Egito no VII século da era cristã não conseguiam ler os hieróglifos e muita coisa lhes parecia misteriosa. As múmias bem preservadas também despertavam estranheza e as lendas sobre a maldição dos faraós começou a surgir. Diversas histórias fantásticas circulavam. Eles acreditavam que se alguém entrasse numa tumba e proferisse a fórmula mágica apropriada, seria capaz de materializar objetos feitos invisíveis pelos antigos egípcios. Também acreditavam que as múmias podiam retornar à vida através de meios mágicos e que as tumbas estavam magicamente protegidas contra invasores por meio de maldições. 

LORD CARNAVON   Em 1923, algumas semanas após a descoberta da tumba de Tutankhamon, Lord Carnavon, o homem que financiou o projeto e que vemos na foto ao lado, foi picado por um mosquito e acabou morrendo em conseqüência da infecção generalizada que daí resultou. No momento de sua morte houve uma total falta de luz no Cairo e seu cachorro, que estava na Inglaterra, começou a uivar até morrer. Os jornais noticiaram amplamente os fatos e vários artigos foram publicados sugerindo que uma antiga maldição proferida contra aqueles que profanassem a tumba tinha sido despertada. A lenda da maldição da múmia começava a se espalhar. Até o fato do canário pertencente a Howard Carter ter sido engolido por uma naja, um símbolo faraônico, no dia da abertura da tumba, foi atribuído a ela. A história reaparecia regularmente sempre que outra pessoa envolvida na expedição morria e isso ocorreu até mesmo com o falecimento da filha de Carnarvon, já nos anos oitenta. 

Os fatos reais parecem ter sido bem diferentes. As luzes realmente se apagaram no Cairo por alguns minutos quando Carnavon faleceu, mas interrupções no fornecimento de energia elétrica naquela cidade eram bastante comuns no início do século XX e continuam sendo até hoje. A cadela do milionário, chamada Susie, teria falecido exatamente às duas horas da madrugada, momento exato do óbito. Ninguém sabe se este fato é ou não verdadeiro, mas parece suspeito, especialmente porque os fusos horários de Egito e Inglaterra são diferentes. A história poderia ter um pouco mais de credibilidade se Susie tivesse morrido às duas da madrugada pelo horário do Cairo. Embora Carter tivesse mesmo um canário, ele presenteou sua amiga Minnie Burton com o passarinho e ela, por sua vez, presenteou um gerente de banco com a ave, obviamente viva.
Até hoje muita gente ainda pensa que existe uma maldição na tumba de Tutankhamon e que a maioria das pessoas que entraram nela na época de sua descoberta morreram de mortes estranhas. Isso absolutamente não é verdade. Ao ser aberta a tumba, 26 pessoas estavam presentes. Apenas seis morreram num prazo de dez anos. Ao ser aberto o sarcófago, havia 22 pessoas presentes. Apenas duas morreram no prazo de dez anos. Quando a múmia foi desembrulhada, dez pessoas presenciaram o fato. Nenhuma morreu no prazo de dez anos. O médico que realizou a autópsia da múmia viveu por mais 20 anos. Quanto a Howard Carter, o descobridor do túmulo e o primeiro a entrar nele em 1922, só veio a falecer em 1939.


Um epidemiologista australiano realizou trabalho de pesquisa que demonstra, segundo ele, que a maldição da tumba de Tutankhamon não passa de mais uma lenda urbana. Comparando a sobrevida dos que estiveram expostos à maldição da múmia com a de seus familiares que não se expuseram, o Dr. Mark Nelson, da Monash University, em Melburne, demonstrou que não há nenhuma base epidemiológica provando que a profanação do túmulo provocou as mortes. A epidemiologia é a ciência que estuda as epidemias, ou seja, as doenças que atacam muitos indivíduos ao mesmo tempo.

O Dr. Mark Nelson baseou-se nos escritos de Carter e elaborou duas listas: uma de 25 pessoas que estiveram envolvidas com a expedição e presentes em seus principais eventos e outra de 19 familiares delas, que não participaram das descobertas. Ele definiu a exposição à maldição como estando presente no rompimento dos selos e na abertura da terceira porta da tumba em 1922, ou na abertura do sarcófago, na abertura dos caixões e no exame da múmia, em 1926. Cada pessoa teria tido, então, entre uma e quatro oportunidades de se expor ao feitiço. O grupo de controle de 19 pessoas que não foram expostas à maldição é formado principalmente por cônjuges, sobretudo esposas. Lutando contra o fato de que as mulheres não existiam para a imprensa dos anos vinte, o pesquisador localizou a maioria das pessoas envolvidas procurando em jornais antigos e livros.


Aqueles que não ficaram expostos à maldição viveram aproximadamente nove anos mais do que os que estiveram expostos. Porém, as pessoas que ficaram expostas já eram mais velhas do que aquelas que não ficaram. Cinco anos da diferença foram explicados por esse motivo. É de se esperar que um grupo de pessoas mais velhas morra antes. O fato de que havia mais mulheres no grupo não exposto, aliado ao fato de que as mulheres geralmente vivem mais tempo, explicam os outros quatro anos da diferença, segundo o pesquisador. Ele concluiu que o resultado de sua análise mostra que não há nenhuma evidência epidemiológica da real existência da famosa maldição da múmia.

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